Um dos elementos do tempo, de
suma importância, em grande parte do território brasileiro nos períodos mais
secos do ano é a umidade relativa do ar. Geralmente os baixos índices de
umidade se manifestam nos meses de julho, agosto e parte de setembro.
A região mais afetada, com
índices alarmantes, é a região central do Brasil e alguns setores do sudeste Brasileiro.
Em muitas localidades, o índice extremo ocorre nas horas mais quentes; ficando
abaixo de 20%.
É bom ressaltar que os baixos
índices de umidade ocorrem neste período do ano (julho-setembro), e não está
relacionado com clima árido. Aliás, no Brasil não existe clima árido, e nem tão
pouco a região citada pode ser caracterizada como região que possui este clima.
Sendo então erroneamente tratada pela mídia, novelas e pessoas mais desinformadas
a respeito deste tema.
Outra coisa: não se analisa esse parâmetro
apenas por um determinado período exposto, em condições críticas, ou seja,
abaixo de 20% em seus extremos, nas horas mais quentes. Há necessidade de se
acompanhar o parâmetro meteorológico durante o desenrolar do dia. Reforçando: é
necessário analisar a curva gráfica da umidade relativa do ar ao longo dia e
traçar um perfil climatológico do parâmetro em questão para melhor se proteger
de horas mais secas.
Fonte: INMET
Nesta época do ano massas de
ar secas, de característica continental, se expandem por todo interior do Brasil,
sendo responsáveis por valores baixos de umidade. Existem anos onde o “inverno”,
do ponto de vista da umidade, é mais severo com extremos mínimos em várias
localidades do centro do país. Esses valores mínimos podem chegar a índices
inferiores a 12%; quiçá abaixo de 10% entre as 14 e 16 horas.
Capitais como Brasília, Goiânia e
Campo Grande já registraram umidade do ar inferior a 10% entre agosto e setembro.
Há registros de ocorrência de baixos índices inferiores a 7% em algumas localidades
do Brasil Central nas horas de maior calor. Mesmo tendo registros críticos à
saúde humana, não se pode dizer que estas regiões são áridas, pois existem
outros elementos que mostram ao contrário, a exemplo do próprio comportamento
da mesma umidade ao longo do ano, aonde os valores chegam acima de 90% em plena
época chuvosa e uma precipitação abundante na estação das chuvas (acima de 1500
mm anuais).
As massas polares, de natureza fria
e muitas vezes de característica seca, invadem o continente sul americano nos
meses de inverno. À medida que elas vão se misturando com o ar mais quente
estabelecido mais ao norte, elas perdem sua natureza original e se amoldam as
novas características de acordo com a latitude, com o terreno que estão se
estabelecendo e as condições climáticas residentes à nova região. Devido à
influência da continentalidade, estas massas que se originaram em regiões meridionais,
perdem umidade e ganham em secura, dando condições a uma situação climática
mais desfavorável ao cotidiano do homem..
Fonte: INMET
Nas regiões tropicais, quanto ao
quesito temperatura, o inverno é curto, devido ao deslocamento e a não
penetração frequente de massas frias pelo interior da região, acabando por não
influenciar na queda das temperaturas. A resultante disto tudo, seria o
fortalecimento do ar tropical continental, que irá refletir em padrões baixos
de umidade, ao não desenvolvimento de nuvens de chuva, aos dias com alta
amplitude térmica e períodos elevados de insolação.
Onde é mais seco? Goiânia ou Brasília?
Se for analisar por picos de extremos, Brasília é mais seca, pois pode ocorrer nos
meses de agosto e setembro, valores mínimos de umidade inferiores a 15% por
vários dias seguidos. Enquanto que Goiânia e Campo Grande esses extremos são de
menor frequência, mas deixando as marcas de um tempo bem seco, se comparado a
padrões normais. Mas não se mede a umidade relativa do ar apenas por picos extremos.
É preciso ver o comportamento da mesma ao longo do dia.
Olhando no geral,
Goiânia vai apresentar uma curva menor que a de Brasília ao longo do ano. Nesta
comparação, teremos na capital goiana e regiões a oeste de Goiás umidade
relativa do ar menor do que ocorre em Brasília. Estas localidades citadas só
perdem para o nordeste do Distrito Federal, sendo mais seco que a Capital Federal.
Tudo isto pode ser ilustrado pelo comportamento das normais climatológicas (30
anos) através da tabela abaixo, como também pelo mapa de umidade relativa do
ar.
Média Mensal da
Umidade Relativa do AR - %
|
JAN
|
FEV
|
MAR
|
ABR
|
MAI
|
JUN
|
JUL
|
AGO
|
SET
|
OUT
|
NOV
|
DEZ
|
ANO
|
Brasília
|
76
|
77
|
76
|
75
|
68
|
61
|
56
|
49
|
53
|
66
|
75
|
79
|
67
|
Goiânia
|
75
|
76
|
74
|
71
|
65
|
60
|
53
|
47
|
53
|
65
|
73
|
76
|
66
|
Normais Climatológicas
– 1961 -1990 – Fonte: Inmet
Média Mensal da
Umidade Relativa do AR - %
18 GMT
|
JAN
|
FEV
|
MAR
|
ABR
|
MAI
|
JUN
|
JUL
|
AGO
|
SET
|
OUT
|
NOV
|
DEZ
|
ANO
|
Brasília
|
57
|
56
|
55
|
54
|
47
|
40
|
35
|
27
|
30
|
47
|
56
|
60
|
49
|
Goiânia
|
58
|
55
|
54
|
52
|
47
|
41
|
36
|
27
|
33
|
46
|
55
|
59
|
47
|
Normais Climatológicas
– 1961 -1990 – Fonte: Inmet
Fonte: INMET
Do ponto de vista climatológico e
de localização regional, Brasília está mais a leste que Goiânia, portanto recebe
mais influencia do mar, apesar de serem separadas apenas por 200 km, mas isto
reflete no comportamento anual. Outro elemento: a capital federal está a barlavento
no planalto central e com uma altitude mais privilegiada, ao passo que a capital
goiana está a sotavento, do planalto central, com altitude mais baixa, portanto
mais seca e mais quente.
O que fica para todos em torno do
mito chamado de Capital da Secura (Brasília), sem ser, pois Brasília tem índices pluviométricos elevados e
umidade relativa também elevada ao longo do ano se comparada a regiões mais
secas do mundo, onde outras localidades se enquadram numa tipologia de climas
áridos ou semiáridos, o que não ocorre de forma categórica com Brasília e
Goiânia. Podemos concluir que o Brasil Central, com a suas capitais, possuem períodos
secos (entre julho-setembro), mas não são cidades secas, e passando longe do
conceito verdadeiro de aridez.
Elder